Monday, August 08, 2005

Salaam Brick Lane!

Vendedores ambulantes, passantes e simpatizantes em Brick Lane

Eu andando na Brick Lane num domingo
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Uma das principais notícias do dia hoje em Londres é a proposta para mudar a nomenclatura dos cidadãos britânicos com descendência de outro país. A idéia defende que filhos de imigrantes nascidos na Grã- Bretanha não se chamariam mais britânicos, mas asiático-britânicos, caribenho-britânicos, africano-britânicos e assim por diante. O tema foi discutido na radio BBC 94.9 durante toda a manhã e conceitos muito familiares a mim, como multiculturalismo, identidade, etc. foram tratados com seriedade pelo apresentador e pelos ouvintes que ligavam participando.
A idéia do multiculturalismo aqui passa longe daquilo que a gente experimenta no Brasil, um caldeirão em que todos, por mais japoneses que pareçam, se dizem brasileiros. Aqui, muitos dos elementos que constituem as diferentes culturas que convivem aqui se preservam, enquanto outros se hibridizam. Cada vez eu gosto mais de ler Stuart Hall por causa disso; as teorias dele se aplicam muito bem a essa realidade aqui. Ele mesmo um jamaicano-britânico!

Estou lendo um livro chamado “Salaam Brick Lane”, escrito pelo jornalista da BBC Tarquin Hall sobre a história do “East End”(como é chamada a região Leste da cidade, onde existe a maior concentração de muçulmanos, indianos e paquistaneses em Londres). O livro é genial e explora a zona da cidade com a qual eu tenho mais contato. Morar em Brick Lane foi, antes de tudo, uma experiência de vida. Tarquin cita no livro, uma passagem do The Times de 1867, que demonstra bem a realidade daqui:

“There is hardly such a thing as a pure Englishman in this island. In a place of the rather vulgarized and very inaccurate phrase, Anglo-Saxon, our national denomination, to be strictly correct, would be a composite of a dozen national titles”.

Alguma dúvida de que se trata de um cenário multicultural? Brick Lane é o exemplo mais nítido dessa diversidade pra mim. Ali, onde samosas, currys e kebabs dividem espaço com hambúrgueres, fish and chips, galinha frita e beigels, Londres tem sua feição mais rica. Mulheres cobrindo-se com burkas, escondendo o rosto e o corpo enquanto outras desfilam de mini-saias ou saiões indianos. Trata-se da celebração de uma diversidade que enfrenta momentos de crise, de discussão, de novas idéias mas que eu, ingenuamente, odiaria ver desaparecer do mapa.
Uma amiga minha diz que cada pessoa que vem pra cá tem uma Londres. A minha Londres é essa: a da convivência dos povos, do encontro, do diálogo. A Londres que eu conheci em Brick Lane!
Sallam!
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Fico devendo, para um proximo post, um comentario sobre o mercado, os restaurantes e o cenario cultural de Brick Lane! Aguardem!

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